segunda-feira, 23 de maio de 2011

O MITO DA POESIA: SUA VIDA E SOBREVIDA


Desde o início da Criação, logo após o fim do Caos onde tudo se transformou, havia formas, cores, perfumes e sabores. E havia também poesia no ar.

Bem no princípio, nasceu a palavra Amor. Desde então, o primeiro homem expandiu o seu conhecimento buscando mundos adentro e afora. A forma mais simples e direta para reter a emoção da descoberta, e assim transmiti-la à posteridade, foi o registro. Foi a primeira forma poética, oral e depois escrita, gravando em folhas, pedras, peles e outros objetos passíveis de preservação. Havia então a pureza, a necessidade humana de comunicar, compartilhar a magia da experiência, da sensação única de ter testemunhado ou recebido algo divino.

Mas no longo caminho da humanidade essa cumplicidade incipiente com a poesia se perdeu gradativamente, até se transfigurar em algo subterrâneo, suburbano, meramente acessório e dispensável: em suma, um objeto de consumo, perecível. E, no entanto, quão imprescindível se faz agora a sua presença em nossas vidas vazias, alienadas pelas avassaladoras e absurdas demandas da sociedade.

Onde está a poesia hoje em dia? Por um lado, há poetas e amantes da poesia, esses anônimos heróis engajados na sobrevida cotidiana da bela arte, com ferramentas apenas a alma, o coração e o cyber-espaço alternativo. Por outro, os grandes veículos de comunicação, retrancados em suas trincheiras e belas torres de marfim, estáticos, envelhecidos pela estreita visão de desacreditar, ignorar a poesia que vibra, vive e clama justiça ao longo de seus inacessíveis e frios perímetros palacianos.

E a fenda tende a se tornar um báratro irreconciliável, alimentada pelos atos delituosos, questionáveis da sociedade, essa, que orfana o homem comum do simples pão cultural. É preciso urgentemente rever atitudes, reavaliar propósitos e propor renovadas ondas de poesia no mar da nossa existência. 

A poesia é um diálogo harmonizador constante que se faz de todos para todos. É patrimônio universal de uma nação, o depoimento sensível do homem nos anais da História.

E por essa razão faz-se imperativo reavivar e manter a sua chama e a sua magia no coração do homem.    

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