Dizem que a oração é o caminho mais curto para se estar com Deus. Eu me atrevo a dizer que o caminho mais curto para alcançar profundamente a alma humana é o abraço. Aquele aperto forte, generoso, dado com a inequivocável emoção que reside em nós.
É comprovado cientificamente, somos feitos de átomos. Há naquele maravilhoso gesto um intercâmbio explosivo de matéria viva e incandescente que se detona em harmônicos desconcertos e depois se recompõe em pares subatômicos inscindíveis pelo resto de nossas vidas. Pode ser que, pelo decorrer frenético de nossos afazeres no cotidiano, nos esqueçamos do mais recente abraço que damos (ou recebemos. Trata-se aqui de mera conjectura acadêmica, pedante argumentação da lógica que nos perfaz e quer sempre prevalecer a qualquer custo. Abraço dá-se, e ponto final!) .
Então, que fazemos para nos lembrar? A resposta é clara. Abracemos outra vez! Não nos enganemos, este abraço será diferente, com novas texturas e sabores, e enriquecerá a nossa alma sedenta de carinho. Este momento será diferente, porque terá o calor da nossa vontade incondicional de abraçar novamente, de doar um pouco do nosso excesso de euforia atômica para, quem sabe, suprir a escassez de sentido de uma alma sem norte, sem sul e sem calor humano, e sobretudo para contagiar com o nosso élan um gigante adormecido nas profundezas da solidão humana.
Abençoado seja Deus pelos braços que temos! Há pessoas bem menos avantajadas fisicamente (ou de outra forma) que a gente, e com uma enorme vontade de abraçar, ousarei dizer infinitamente maior que a gente. Um abraço. Um simples gesto, corriqueiro, que pode significar muito para quem nada tem, a não ser a indomável força interior de vencer com a “raça” os obstáculos postos em seu caminho.
Há incontáveis histórias que começaram, continuaram ou terminaram com o abraço. O recém nascido chorando, consolado pelo abraço carinhoso da mãe, a criança com joelho arranhado chorando, consolada pelo pai ou pela mãe, os namorados se abraçando com aquele calafrio gostoso na barriga, o amigo que nos aperta, em nossos momentos de derrotas, compartilhando a nossa dor, irmãos que se abraçam com emoção após muitos anos sem se ver, a despedida de amigos, amantes, companheiros, e assim por diante.
Mas não quero falar de tristeza agora. Seria muito fácil arrancar lágrimas de ti, leitor. E seria covardia, pois estamos com o coração aberto e sensível ao sofrimento humano (quem dera fosse assim sempre...) nesta época do ano. Vim aqui falar do abraço, aquele ato mágico que restaura, ainda que temporariamente, o nosso bem-estar e nos coloca de volta na estrada. O seu caminho entre nós é complicado, mas quando ocorre, abre portas e janelas em nosso coração.
Portanto, vá até a esquina de teu bairro, ou pode até ser que nem precise ir assim tão longe. Antes, olhe ao teu redor. Há com certeza alguém que precisa de um abraço muito mais que um presente de Natal.
(Jean-Pierre Barakat)
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